segunda-feira, 13 de julho de 2009

Remake

«A eternização no poder lesa a sociedade. Muito mais se isso se passa num regime democrático. O poder, mesmo se sucessivamente sufragado pelos votos, corrompe. Não as práticas, mas o espírito da coisa. É por isso que a génese das democracias parlamentares assenta na alternativa. Um líder, digno desse nome, deverá ter a humildade e lucidez de sair na altura própria. Mesmo que, para tal, deva designar um herdeiro.
É por isso que o PS continua a ser um caso peculiar no panorama político português. A capacidade dos socialistas em minar tudo aquilo que laboriosamente conquistaram não deixa de ser notável. E o Porto não deixa de ser um verdadeiro laboratório.
Em rigor, o PS/Porto não passa de caso psiquiátrico. Ganhou, perdeu, e voltou a ganhar a segunda câmara do país. Primeiro por mérito próprio, depois por demérito dos adversários. Agora, em nome de um aparelho caduco, politicamente muito pouco culto e esclarecido, prepara-se, voluntariamente, para voltar a perder influência na cidade do Porto. E ninguém, no seio do PS, conseguiu reflectir porque razão o dr. Fernando Gomes, para se fazer eleger presidente da Câmara do Porto, impôs ao seu próprio partido uma lista de independentes.
A verdade é que, em Portugal, o PS é verdadeiramente o paradigma da democracia. Então não é que, estatutariamente, as comissões políticas concelhias têm um peso decisivo na escolha dos candidatos às câmaras?
É por isso que a actual situação no PS/Porto é, no mínimo, hilariante. O aparelho concelhio do partido, há anos sob as ordens do mesmo presidente, beneficiando agora da capa protectora de um governante – um ajudante de ministro, como diria Cavaco – prepara-se para reconduzir o mesmo líder. Um político, cito, com um “brilhante currículo”, que ficou conhecido na cidade por ter sido obrigado a pedir desculpa por utilizar uma primeira página de um diário no caso do Jacob Maersk, aquele destroço de navio que adornou durante alguns anos o Castelo do Queijo.
Assim, perpetua-se um líder e inviabiliza-se uma urgente renovação no PS/Porto e na câmara que domina.
De facto, em termos regionais, e plagiando um recente militante, o PS é, mesmo, um partido muito pouco atraente…»

(texto escrito a 16 de Fevereiro de 2001 para uma crónica na Rádio Nova)

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